Para estas empresas, a inovação vem dos parceiros
Em tempos de dificuldade para inovar a portas fechadas, grandes empresas se aproximam de startups para buscar soluções para seus problemas
Por Murilo Bomfim e Aline Scherer
11 de abril de 2019

Manfredo Rübens, da Basf: centro colaborativo de experiências digitais (Leandro Fonseca/EXAME)
A lentidão da justiça brasileira, cujo excesso de burocracia costuma retardar a conclusão dos processos, é uma velha conhecida das empresas. O setor jurídico do banco Itaú, no entanto, está cada vez menos preocupado com esse problema. Isso porque a área ganhou no ano passado um reforço tecnológico: uma parceria com a startup Mediação Online levou as demandas judiciais a um ambiente integralmente digital, facilitando a resolução de casos que envolvam pessoas físicas e empresas. O banco passou a usar uma plataforma da Mediação Online para resolver pendências financeiras dos clientes. Após um período de avaliação de cerca de um ano, com mais de 700 mediações, o Itaú fechou uma parceria com a startup para a gestão de 5.000 casos por mês. O banco avalia que, para cada real investido na parceria, já teve um retorno de 103 reais.
O aumento da eficiência na área jurídica é apenas um dos resultados obtidos pelo banco desde a criação do centro de empreendedorismo tecnológico Cubo Itaú em 2015. Instalado em São Paulo, o prédio abriga mais de 300 pequenas empresas e serve de espaço para coworking e geração de negócios com grandes corporações que buscam inovação. “Não há receita de bolo para a transformação digital. As startups são ferramentas para facilitar esse processo”, diz Renata Zanuto, executiva responsável pelo relacionamento com as startups do Cubo. Em três anos, o Itaú já realizou mais de 70 projetos com startups residentes no Cubo. “Grande parte delas não é ligada à área financeira, mas impacta na transformação de processos internos do banco”, afirma Reynaldo Gama, responsável por fomentar os negócios entre grandes empresas e as startups do Cubo.
O que o Itaú está colocando em prática é o que se chama de inovação aberta, um conceito formulado no início dos anos 2000 pelo americano Henry Chesbrough, professor na Universidade da Califórnia. A expressão se refere à disposição de uma empresa em aceitar cooperação externa, seja de startups, seja de instituições de ensino, seja de governos, para desenvolver novas tecnologias em produtos e processos. Foi o caso do revolucionário iPod, lançado pela Apple em 2001, mas com parte de sua tecnologia desenvolvida pela startup americana PortalPlayer.
Hoje, a ideia de inovação aberta passa por uma ampliação: engloba o corporate venture capital — prática mais ligada a investimentos de grandes companhias em startups ou de criação de uma startup interna. Mais recentemente, surgiu o conceito de corporate-startup engagement, algo que vai além da criação de novos negócios. “As grandes empresas querem trabalhar em diversas modalidades com as startups, e não necessariamente ser donas delas”, afirma Bruno Rondani, presidente da 100 Open Startups, uma plataforma que conecta grandes organizações às pequenas inovadoras. “A ideia é unir para criar mais valor.”
A contratação de serviços de startups é apenas uma das possibilidades de parcerias com grandes empresas. A indústria química Basf, por exemplo, aposta na estratégia de aceleração. Em uma parceria com a aceleradora ACE, a empresa alemã criou o programa AgroStart e, por meio dele, investiu em mais de dez startups, trazendo a inovação para dentro de casa. “A iniciativa é voltada para melhorar, de uma forma digital, a eficácia da aplicação de agrodefensivos e as tecnologias de análise de solo”, afirma Manfredo Rübens, presidente da Basf para a América do Sul. Hoje, por exemplo, a empresa usa drones para identificar situações de risco em lavouras. Após a análise, o aparelho transmite dados a uma equipe da Basf, que envia recomendações para que o agricultor resolva o problema de forma eficiente.

Cubo Itaú: abrigo para mais de 300 pequenas empresas | Edu Bandelli
A Basf está satisfeita com os resultados que vem obtendo com a inovação aberta. E quer mais. Há cerca de duas semanas, inaugurou em São Paulo um centro colaborativo de experiências científicas digitais, batizado de Onono. “É um lugar onde confrontamos clientes e funcionários com as novas tecnologias e a digitalização”, diz Rübens. Ele acredita que o Brasil tenha um ambiente propício para transformações na cultura da empresa. “Já trabalhei na Alemanha, nos Estados Unidos e no Brasil. Por aqui, as mudanças são muito mais reconhecidas como oportunidades e menos como ameaças aos funcionários do que em outras regiões do mundo.”
