Executivos de tecnologia ganham mais responsabilidade e mais dinheiro
Os executivos de tecnologia ganham mais responsabilidade nas empresas — e ocupam o único cargo executivo com aumento real de salário nos últimos 5 anos
Por Aline Scherer
29 mar 2018, 05h00

Sant’Ana, da Basf: cargo inédito para cuidar da estratégia digital (Germano Lüders/EXAME)
Há quatro meses, o time de executivos que se reportam diretamente ao presidente da química Basf na América do Sul, Ralph Schweens, ganhou um novo e inédito integrante: o diretor de estratégia digital. A novidade surgiu na matriz alemã em dezembro de 2015.
O anúncio se deu em meio a uma guinada no sentido de usar mais novas tecnologias, como a inteligência artificial, nos negócios da companhia. Em junho de 2017, por exemplo, a Basf lançou um supercomputador dez vezes mais veloz em relação ao que usava antes, capaz de calcular a estrutura ideal de materiais para cada aplicação.
A tarefa de incluir novos métodos de trabalho à rotina de seus 5 100 funcionários na América do Sul coube ao recém-contratado Fabiano Sant’Ana, engenheiro de formação. Sant’Ana não tem uma equipe específica. Em cada projeto, monta times com funcionários de várias áreas. Todas as quintas-feiras se reúne online com o vice-presidente global de estratégia digital e seus pares pelo mundo. “Meu papel é influenciar as equipes a pensar diferente”, diz.
A ascensão da figura de um executivo responsável pela estratégia digital ou análise de dados se observa globalmente. De acordo com uma pesquisa divulgada em dezembro pela consultoria Gartner, pela primeira vez, mais da metade dos executivos responsáveis pela área de novas tecnologias nas empresas consultadas passou a se reportar ao presidente ou a um vice-presidente de operações.
Em 2021, o prognóstico é que 75% deles sejam alçados a esse nível. O orçamento sob a responsabilidade deles também cresceu — 23% somente no ano passado. É uma mudança no status de executivos que por anos foram considerados provedores de infraestrutura e passam a ser estratégicos. “O executivo valorizado é o capaz de influenciar as pessoas e introduzir inovação na maneira de fazer as coisas”, diz Cassio Dreyfuss, vice-presidente de pesquisas da consultoria Gartner, especializada em tecnologia.
À medida que cresce sua relevância, o salário também aumenta. Uma pesquisa exclusiva realizada pela consultoria Korn Ferry sobre remuneração executiva com 318 empresas de grande porte no Brasil mostra que o executivo responsável por tecnologia foi o único com aumento real nos últimos cinco anos.“A demanda por esses profissionais aumentou mais do que a oferta de gente qualificada”, diz Carlos Silva, diretor de pesquisas da Korn Ferry.

Aumentar o status desses profissionais surge como uma necessidade, sobretudo, em setores nos quais a informação é o principal ativo. “Percebemos que precisávamos de pessoas mais seniores, que tivessem uma visão total do negócio”, afirma Rodrigo Sanchez, vice-presidente de estratégia de dados da empresa de informação financeira Serasa Experian.
Uma de suas missões é buscar novos parceiros de fontes de dados em mercados nos quais a Serasa ainda não atua, como o agronegócio. Cerca de 20 pessoas de sua equipe trabalham num escritório à parte, o DataLab, onde se procura resolver problemas específicos dos clientes.
Em paralelo, a companhia aumentou a responsabilidade do vice-presidente de TI, cargo existente há mais tempo. “Tenho um plano de 272 ações para concluir em dois anos”, diz Alberto Campos, vice-presidente de TI da Serasa Experian. Uma de suas tarefas é alocar funcionários de seu time para as áreas de negócio, produto, análise de dados e experiência do consumidor. Nos últimos 12 meses, 21% da equipe de TI foi promovida.
A nova realidade das empresas exige que o executivo de tecnologia esteja mais enfronhado nos negócios para sugerir inovações — e não apenas espere passivamente a demanda das diversas áreas. Na farmacêutica Sanofi, um time de 35 funcionários da área de tecnologia na América Latina atua como uma espécie de tradutor das demandas das unidades de negócios para as equipes de tecnologia.
Em dezembro, cinco recém-contratados para esse cargo receberam a missão extra de identificar ferramentas para ajudar na produtividade, melhorar a comunicação e integrar os multicanais de venda. As contratações ocorreram concomitantemente ao lançamento de uma loja online para distribuidores.
“Antes, o funcionário de TI trabalhava como se fosse um tirador de pedidos. Hoje, estamos mais conectados ao negócio, nosso papel é gerar conhecimento sobre os meios digitais para todos os funcionários”, diz Luís Hamilton, diretor de TI e soluções da Sanofi para a América Latina.
