revista exame
Após fusão com DuPont, Dow quer dividir a nova empresa em três
Depois de realizar a fusão da química Dow com a rival DuPont, o presidente mundial da Dow, Andrew Liveris, agora quer empreender o processo inverso
Por Aline Scherer
7 jun 2018, 05h00

Liveris: “Queremos criar 70 bilhões de dólares para os acionistas” (Zeca Caldeira/EXAME)
Uma onda de cisões de grandes empresas vem agitando o mercado de capitais nos Estados Unidos. Nos últimos três anos, a companhia de tecnologia HP e a de alumínio Alcoa decidiram se dividir em empresas independentes para aumentar o foco em cada um de seus diferentes negócios e acelerar o crescimento. Menos complexas, ganhariam agilidade para conduzir mudanças necessárias diante de novos competidores e da volatilidade dos mercados. A Alcoa separou seu negócio de peças para o setor aeroespacial e autopeças de sua tradicional operação de fundição. A HP dividiu-se em empresas de software e hardware. Após uma fusão de gigantes, realizada em 2015, as centenárias empresas químicas americanas Dow e DuPont seguem agora o mesmo caminho. Até junho de 2019, o grupo será dividido em três companhias. A Dow, especializada na ciência de materiais. A DuPont, com foco em produtos para diferentes indústrias. E a Corteva, voltada para o setor agrícola.
Quando for concluída a separação, estima-se que o valor de mercado combinado das companhias será da ordem de 200 bilhões de dólares — 30 bilhões a mais do que o valor atual da DowDuPont. O engenheiro químico australiano Andrew Liveris, no comando da Dow desde 2004, liderou as negociações. Ao longo da carreira, ele já integrou conselhos empresariais em governos dos Estados Unidos, da Austrália e de países da Europa, faz parte do conselho de administração da gigante de tecnologia IBM e, em julho, vai se tornar conselheiro da Saudi Aramco, maior petroleira do mundo. Aos 64 anos, Liveris deixará o comando da Dow em julho, e está viajando o mundo para conversar com funcionários, clientes e parceiros sobre as mudanças. “Ao passar o bastão, não posso deixá-lo cair”, diz. Em São Paulo, Liveris falou a EXAME com exclusividade.
Qual é a lógica por trás da fusão da Dow com a DuPont? Já era planejado dividir a companhia resultante em três?
As companhias tinham quase o mesmo valor de mercado e a sobreposição de 35% dos acionistas. Uma das grandes razões da fu-são foi organizar os ativos e criar uma em-presa de agricultura. A DuPont cresceu por 215 anos e a Dow por 121, e ambas diversificaram os negócios. Com a cisão, poderão focar certos mercados e setores. A negociação foi livre de impostos porque é uma fusão de iguais. Qualquer outro tipo de negociação com o mesmo objetivo teria uma série de ramificações fiscais. O valor de mercado da Dow-DuPont após a negociação passou para 130 bilhões de dólares. Hoje está em 170 bilhões. Já criamos 40 bilhões em valor. Concluídas as sinergias e a separação em três empresas, o valor de mercado combinado deverá chegar a 200 bilhões de dólares. Estaremos criando 70 bilhões de valor para os acionistas. É algo que vale muito a pena, mesmo sendo complicado. Nesse percurso, o mais importante foi não distrair os funcionários, os clientes e ninguém mais além das poucas pessoas que fizeram a engenharia financeira.
Qual será a presença e o ritmo de crescimento dessas três empresas em países emergentes, como o Brasil?
A Dow materiais e a DuPont especialidades continuarão a ser tão globais quanto eram antes. A Corteva, voltada para a agricultura, será mais focada geograficamente. Estará nos principais mercados agrícolas do mundo: Brasil, China, Estados Unidos e Europa. Das três empresas, a DuPont provavelmente será a menor no Brasil. A Dow será grande aqui. Estamos muito bem preparados, com materiais para embalagens, bens de consumo e infraestrutura, para ajudar o país a crescer, enquanto a classe média continuar crescendo. Na América do Sul como um todo, a Dow estará quase do mesmo tamanho, porém mais lucrativa e valiosa. As três crescerão acima do PIB.
No primeiro trimestre deste ano, os resultados positivos dos demais negócios amenizaram os prejuízos registrados na área agrícola. Depois da cisão, as empresas não ficarão mais vulneráveis, sem a possibilidade de compensar perdas setoriais?
O resultado foi afetado pelo clima adverso, que obrigou os agricultores a adiar os plantios e a entrega dos produtos. Ao longo do ano, o resultado deve se recuperar e o lucro deve ser crescente. Mas sua observação é válida. Quando as empresas estiverem separadas, a volatili-dade de seus mercados será mais transparente. Isso vai forçá-las a inovar mais rapidamente do que os concorrentes. Com isso, é possível ter a proteção de patentes e cobrar um valor mais alto. Na nova empresa de materiais, teremos quase o mesmo volume de investimentos para aplicar não mais em 13 negócios, mas em seis áreas que terão um volume maior de novos produtos para superar o ciclo de lançamento dos antigos.
Há planos de investir mais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil?
Estamos construindo um novo centro de inovação nos Estados Unidos, após a aquisição da química Dow Corning. Recentemente, inauguramos nosso centro de pesquisa no Oriente Médio. Durante muito tempo, estudamos construir um centro de inovação no Rio de Janeiro. Mas o país passou por uma recessão, então desaceleramos o ritmo aqui. Mas vamos precisar trabalhar em pesquisa na América do Sul, entre Brasil e Argentina.
